domingo, 27 de maio de 2012

A Máscara no Trabalho do Théâtre du Soleil


Copio aqui trechos que selecionei da fala de Ariane Mnouchkine, sobre o uso das Máscaras em sua companhia, em entrevista à Odette Aslan:

 "(...)Utilizamos a máscara porque ela rapidamente se impôs. Se atores que querem improvisar no teatro contemporâneo não encontram rapidamente os meios de tomar uma certa distancia a fim de chegarem a uma forma, correm o risco de se atrapalharem de caírem no psicológico, no paródico, na derrisão e em outras armadilhas que nós queríamos evitar. Percebemos que a máscara impunha um tal trabalho sobre o signo teatral, sobre a maneira de representar as coisas, que ela constituía uma disciplina de base e esta disciplina tornou-se indispensável para nós.
(...)
Eu diria que a máscara é nossa disciplina de base porque ela é uma forma e qualquer forma impõe uma disciplina. O ator produz no ar uma escrita, ele escreve com seu corpo, é um escritor no espaço. Nenhum conteúdo pode exprimir-se sem forma. Existem várias formas, mas talvez para alcançar-se algumas delas, haja uma única: disciplina. Acredito que o teatro é um vaivém entre o que existe de mais íntimo em nós, de mais ignorado, e sua projeção, sua exteriorização máxima em direção ao publico. A máscara requer precisamente esta interiorização e esta exteriorização máximas. Um certo tipo de cinema e de telivisão habituou-nos ao “psicológico”, ao realismo, ao contrário de uma forma, portanto, ao contrário da arte: dispomos os atores num cenário, mas o palco não lhes pertence realmente. Enquanto que, com a máscara, eles criam seu próprio universo a cada instante. As grandes tradições teatrais, as grandes formas de representação utilizam a máscara (da tragédia grega aos teatros orientais).
(...)
No Théâtre Du Soleil, praticamos muitos exercícios com máscaras expressivas, para nós a máscara constitui a formação esencial do ator. A partir do momento em que um ator “encontra” sua máscara, ele está próximo da possessão, ele pode deixar-se possuir pelo personagem. Alguns sufocam, literalmente, ficam sem voz, sem olhos, sem corpo, aniquilados pela máscara. Outros a atravessam e esta travessia é dolorosa. Pede-se a eles que sejam “visionários” que encarnem poemas, imagens, visões, eles devem levar em conta tanto o  mundo exterior - aquele no qual se passa a peça e o espetáculo - quanto o seu mundo inferior - o do personagem. É uma tarefa cansativa, que não deixa intactos nem seu corpo, nem sua alma, uma tarefa atlética para o corpo, a imaginação, o coração e os sentidos.
(...)
No teatro, o corpo inteiro é a máscara. Não se pode dizer que o fato de usar uma máscara acarrete um ritmo particular. É o personagem - a máscara - que adquire seu ritmo interior, suscetível de variar segundo o estado ou a emoção. Também não se pode dizer que a utilização da máscara imponha tal ou tal movimento da cabeça e do pescoço. (...) Nunca pensamos em usufruir de algo já adquirido no domínio da máscara. A maior aquisição é saber que não há aquisições."

Dezembro de 1982


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