segunda-feira, 2 de julho de 2012

Menos é Mais?!

Saindo do set do meu primeiro longa (primeiro que eu faço mais do que uma pequena participação em que o espectador corre o risco de não me ver caso se distraia por alguns segundos), cheia de ansiedades, fui tomar uma cerveja com um amigo na augusta (santo remédio!). Eu tinha passado no cinema antes para assistir "Febre do Rato" e começamos a conversar sobre as coisas loucas que éramos capazes de fazer por uma cena e debater sobre a natureza masoquista dos atores. Nos questionamos sobre os sacrifícios físicos e as angustias servirem de motor para a criação ou, no mínimo, fazerem de nós os instrumentos perfeitos para a loucura dos diretores. 

Ele me perguntou por qual trabalho eu tinha ficado careca no ano anterior, contei que era para um curta de Daniel Bandeira e Pedro Sotero: "Sob a Pele". O mesmo que me custou 30 horas de pintura corporal para ter o corpo inteiro tatuado, mais 3 horas de retoque diários e quase 10 dias sem tomar banho. Depois do segundo dia de aplicação das tatuagens eu comecei a vomitar por passar tantas horas de bruço. No penúltimo dia de filmagem eu e o outro ator, Mariano Mattos, tivemos que ficar 4 horas deitados, abraçados, imóveis enquanto nos "colavam" um ao outro com silicone líquido.

Certamente a minha história era boa, mas a dele não ficava atrás.  Sua preparadora vocal disse que se nos mandassem pular de um precípicio, nós o faríamos. Ele respondeu que, felizmente, ainda não tinha sido confrontado a essa situação, mas que já tinha se jogado de um cavalo em movimento durante uma cena de tiroteio em "O Menino da Porteira". Quando lhe explicaram a cena ele disse: tudo bem; pediu uma égua mansa e treinou pacientemente durante todo o dia os movimentos do tiro, da descida do bicho. Primeiro com ela parada, em seguida com ela caminhando, como cair e se afastar das patas dela para não ser pisoteado, etc. Finalmente na hora de gravar a cena - um plano sequˆncia com tiros e perseguição - ele esporeou a égua pela primeira vez, se jogou e saiu rolando pelo chão. Foi quando o diretor cortou e disse: "Mas por que você saiu rolando pra fora do quadro?? Olha, eu vou te dar uma dica: no cinema o menos e mais!" Rimos.

Bem, já era tarde. Ele me perguntou: "E você filma este final de semana?" "Sim, vou levar uma anestesia para fazer uma cena em que eu acabei de sair do dentista!". Caímos na gargalhada. Hoje, ainda com a boca inchada posso dizer que não tomei uma, mas várias anesterias até chegar ao estado de deformação que o diretor queria. Só espero que meu rosto volte ao normal. Pelo menos, quando nos sentarmos de novo numa mesa de bar, agente tem histórias novas pra contar!


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