domingo, 5 de agosto de 2012

A Aventura Shakespeariana

Esta semana fui assistir "Sua Incelença, Ricardo III" do grupo Clowns de Shakespeare, de Natal. Com direção de Gabriel Villela e seus figurinos impecáveis, excelentes atores e soluções cênicas divertidas e surpreendentes e digo: o brado desta Inglaterra sertaneja vale a pena ser visto e ouvido. É de graça, no SESC Belenzinho, tem um ótimo trabalho musical e convenhamos, trata-se de um texto de Shakespeare.

No teatro, pessoas podem dar bons mestres, máscaras podem ser mestres vitais para um ator, mas alguns textos também o são. Os de Shakespeare com certeza se enquadram nessa categoria. Vale lembrar que "o Bardo", além de dramaturgo e diretor, era chefe de Companhia e, com seus espetáculos, tinha por obrigação alimentar seus atores; e a concorrência, na época não era fraca. Quer motivação melhor do que a fome? Além disso, tudo que era escrito era encenado, dito, testado, e Shakespeare podia reescrever falas ou passagens de acordo com a reação do público. Esse textos chegam a nós mais do que burilados e milhares de vezes confrontados com os espectadores. Não resta dúvidas: são bons.

Tão bons que um dos meus mestres, Maurice Durozier, do Théâtre du Soleil, me chamou, no ano passado, para ir com ele à Natal trabalhar um pouco de tragédia shakespeariana, a título pedagógico, justamente com meus amigos dos Clowns de Shakespeare, no Rio Grande no Norte. Juntos, partimos em uma aventura incrível: labutar, durante uma semana, sobre o texto Ricardo II, a partir da montagem deste feita pelo Théâtre du Soleil na década de 80. Ou seja, mergulhar na guerra de sucessão do trono da Inglaterra Medieval inspirados do Teatro Nô, Japonês. (Realmente Ariane Mnoushkine têm umas idéias supreendentes!).

Compramos quimonos, tecidos, meias para os cabelos, faixas e atacamos, diretamente, o palco. Com o texto numa das mãos e as rédeas de cavalos imaginários na outra, nós lançamos. É incrível entender o significado de uma frase no momento em que se é confrontado a ela. No mesmo momento em que se é tomado pela emoção da cena.  Durante uma semana fomos reis, rainhas, criados, marechais, guerreiros, covardes, leais, cavaleiros, conspiradores, assassinos... Durante uma semana cavalgamos por prados infindáveis, escalamos torres, amaldiçoamos, fomos amaldiçoados, sofremos e amamos. Tudo sob a condução apaixonada de Maurice e as boas estrelas de Shakespeare, do Soleil, e do caminho luminoso dos Clowns. 


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