domingo, 2 de dezembro de 2012

"A imaginação é um músculo que se trabalha"

Depois de algum tempo sem postar nada nesse blog volto em grande estilo para falar da conferência “Palavra de Ator” e do lançamento do livro homônimo do meu amigo e professor Maurice Durozier, do Théâtre du Soleil. Posso parecer suspeita para falar do tema (é a quarta vez que a assisto: estava na estréia, nas tentativas de versões mais longas e mais enxutas, em Recife, em Natal, no Rio, em São Paulo, nos bastidores...) mas asseguro que é uma bela e importante experiência.
Maurice fala de forma franca e divertida sobre o oficio do ator, as dúvidas e angústias que nos perseguem. E, confesso, é bom ouvir um grande ator descrevendo  o terror dos primeiros anos de carreira, atrás das cortinas, instantes antes de entrar em cena, ou de improvisar diante de sua diretora (o que Ariane Mnouchkine chama de “pânico sagrado”!).  E nos dá lições preciosas: “para ser ator, é necessário manter aberta a porta da infância” e (parafraseando Ariane) “a imaginação é um músculo que se trabalha”.
Sobre a conferência, nas palavra de Maurice: “A minha família já fazia teatro há quatro gerações e então eu caí nesse mundo quando era bebê. Não gostava de estar no palco: gritava, chorava, contaram-me depois. Fui criado por meus avós, que eram atores e, em casa, não havia separação entre as coisas da vida e do teatro. Depois, quando voltei a fazer teatro, com 16-17 anos, entrar no palco era como estar na minha casa. Mais tarde entrei nesse grupo. Nele fazemos peças muito longas. Portanto são horas e horas nesse outro mundo. No outro lado do espelho. Nesse mundo vivo tudo que tenho que viver como ator, mas, saindo do palco, sensações, reflexões, pensamentos, crônicas, sempre chegavam e pensei que agora era o momento para falar disso: da vida do ator a partir do interior, do que está acontecendo dentro dele.”

Maurice Durozier,
como ator do Théâtre du Soleil, participou de espetáculos como “Richard II”“La nuit des rois”, “Henry IV” de W. Shakespeare, “Les Atrides” de Euripide et Eschyle entre outros. Na própria companhia a “Les voyageurs de la nuit”, escreve, dirige e atua. “Kalo”, uma peça sobre ciganos, recebeu o prêmio Villa Médicis hors les murs 1993. Orientou oficinas e cursos em países como França, Brasil, Argentina, Espanha, Afeganistão. Atuou no cinema em filmes como “En un mot”, de Jacques Rouffio (1985), “Les éphémères”, de Ariane Mnouchkine (2009) entre outros.

O livro Palavra de Ator, de Maurice Durozier, foi impresso pela Cepe e editado pela Prefeitura do Recife. Assim, quem não puder assisti-lo em suas andanças pelo país poderá ter acesso ao texto integral da conferência. A primeira parte é composta pelos capítulos: “A ilusão e a verdade; “O nascimento do ator”; “O sagrado”; “O teatro novayorkino” e “O teatro e a vida”. A segunda parte trata de temas como o teatro indiano, o narcisismo, as emoções, os momentos de revelação artística e o impacto da vida sobre a arte.

Nenhum comentário:

Postar um comentário