domingo, 10 de junho de 2012

Na oficina de Mestre Erhard

Há cerca de três anos eu andava em Paris, absolutamente apaixonada pela descoberta das máscaras, e o querido Maurice Durozier me conseguiu um encontro com Erhard Stiefel, mestre de máscaras do Théâtre du Soleil. Cheguei na Cartoucherie, sede da companhia, pelo menos meia hora antes do combinado. Estava ansiosa para encontrar esse grande mestre de máscaras, mas também queria aproveitar a desculpa de ter um conpromisso por lá para perambular um pouco por esse espaço mágico de trabalho e criação. 

Os atores e técnicos estavam em plena construção dos cenários do último espetáculo da trupe: Os Náufragos da Louca Esperança. Encontrei alguns conhecidos: um ex-colega da minha turma de escola de teatro (Jacques Lecoq), uma ou duas estagiárias brasileiras que trabalhavam ajudando na oficina, uma atriz amiga minha, Maurice, claro, e outros artistas que eu admirava do palco. O clima era festivo, mas ressendia a suor e trabalho duro. Enchi os pulmões daquele ar e fui bater na oficina do Mestre Erhard. Ele também parecia atarantado com tantas demandas de última hora, imitava Ariane de um jeito cômico: "Erhard, só você sabe fazer isso, Erhard, só você pode fazer aquilo!" E completava: "Mas no final, eu não posso resistir a nada do que ela me pede! O que é eu posso fazer? São tantos anos juntos, isso parece um casamento!" Me olhou. "Bem, você deve ser a Rita, me passe aquela lata de verniz." E foi assim que começaram as valiosas lições de Erhard.

Ele acabara de chegar do Japão, onde estivera à convite, reproduzindo algumas rarríssimas e valiosas máscaras do teatro Nô. Estava indisfarçavelmente orgulhoso de sua tarefa e falava enquanto trabalhava: "Nunca tinham deixado um estrangeiro a sós com aquelas máscaras, nunca!". Contou que teve que pedir uma mesa para trabalhar, pois o tatame estava acabando com as suas costas, mas que tinha ficado satisfeito com o resultado. Depois de algumas horas de trabalho e prosa ele me olhou de alto abaixo e voltou com três sacos de tecido. Me estendeu o primeiro. Quase caí pra trás quando vi que era uma das réplicas do tesouro nacional japonês na qual ele andara trabalhando tanto! "Cuidado!" - gritou ele à sua maneira enérgica. "Trouxe elas para pintar aqui, mas não encoste o dedo na madeira, pois a gordura do seu dedo vai isolá-la da pintura com porcelana, entendeu?!". E eu? Bem, eu acatava cada uma de suas ordens com um sorriso de orelha à orelha! Afinal, mestre é mestre!



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